segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

RELATO:TELEVISÃO BRASILEIRA

BREVE RELATO: HISTÓRIA DA TELEVISÃO BRASILEIRA










A PRF - 3 TV Tupy-Difusora
Em 18 de setembro de 1950 era inaugurada a PRF-3 TV Tupy-Difusora de São Paulo, primeira emissora de televisão do Brasil e da América Latina. Iniciativa do jornalista paraibano Francisco de Assis Chateaubriand. Depois de poucos meses de treinamento, alguns radialistas escolhidos por Chatô lançaram-se à aventura de fazer TV. Os estúdios eram pequenos, o equipamento precário, mas o nascimento da TV Tupi foi solene. Assis Chateaubriand presidiu a cerinômia que contou com a participação de um frei cantor mexicano. José Mojica, que entoou "A Canção da TV", hino composto especialmente para a ocasião. Um balé de Lia Marques e declamação da poetisa Rosalina Coelho Lisboa, nomeada madrinha do "moderno equipamento" fizeram parte do show. A jovem atriz Yara Lins foi convocada especialmente para dizer o prefixo da emissora - PRF-3 - e o de uma série de rádios que transmitiam em cadeia o acontecimento.Ela iniciou dando os prefixos de todas as rádios dos Diários e Emissoras Associadas do Brasil! As do Rio de Janeiro, de São Paulo, do nordeste, de Minas Gerais, do Sul...de todas! Ela mesmo não sabia como decorou todos esses prefixos, sendo que um erro qualquer seria fatal! Os três últimos seriam "PRF-3 Rádio Difusora, São Paulo; PRG-2 Rádio Tupi, São Paulo e PRF-3 TV, São Paulo". Como entender uma televisão no meio dos prefixos de rádio? Mas, para piorar, Yara Lins não parou só nos prefixos, continuando:
" - Senhoras e senhores telespectadores, boa-noite; a PRF 3 TV - Emissora Associada de São Paulo orgulhosamente apresenta, neste momento, o primeiro programa de televisão da América Latina".
A seguir entrou a programação na tela dos cinco aparelhos instalados no saguão do prédio dos Diários Associados. Nos primeiros dias, a Tupi trabalhou heróicamente com uma programação das 18 às 23h. E sua antena foi instalada no alto da torre do Banco do Estado de São Paulo (atual Banespa).Há muitas histórias a respeito desse dia. Uma delas é que, empolgado, Chateaubriand teria quebrado uma garrafa de champanhe numa das duas câmeras RCA, fazendo com que a TV no Brasil entrasse em cena com apenas 500/o de sua capacidade, isto é: com apenas uma câmera. Outra é que, acabada a inauguração, a equipe se deu conta de que não havia o que colocar no ar no dia seguinte, pois ninguém havia pensado nisso. O autor de novelas Cassiano Gabus Mendes que, aos 23 anos, assumiu a direção artística da Tupi, não podia ouvir essas histórias, desmentia quantas vezes fosse preciso. "É tudo invenção do Lima Duarte. Como ele é muito engraçado, as pessoas acabam se convencendo." dizia ele pouco antes de morrer, em 1994. "Chateaubriand era um homem esclarecido, não ia danificar equipamento e tínhamos programação para as três semanas seguintes". Acostumados à improvisação e rapidez do rádio, os pioneiros não tiveram problemas em se adaptar ao moderno veículo e aprenderam muito: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena. A TV Tupi dos primeiros anos era uma verdadeira escola. Aos poucos, os programas ganharam forma: o primeiro telejornal... a primeira novela. Uma Vida de Sucessos
O programa "TV de Vanguarda" revelou a primeira geração de atores, atrizes e diretores. Foram apresentadas peças como Hamlet, de Shakespeare, e Crime e Castigo, de Dostoievsky. Alguns programas dos primeiros tempos da TV Tupi tornaram-se campeões de audiência e permanência no ar: Alô Doçura, Sítio do Picapau Amarelo, O Céu é o Limite, Clube dos Artistas (que existiu de 1952 a 1980) e o famoso telejornal "O Repórter Esso" (que ficou 18 anos no ar). Telenovela foi invenção da Tupi, que as exibia em capítulos semanais e era capaz de ousadias como mostrar beijo na boca. Foi em 1951, na novela Tua Vida Me Pertence, que Vida Alves deixou-se beijar pelo galã Walter Forster. No jornalismo a emissora repetiu na tela o sucesso do Repórter Esso, que marcou época no rádio brasileiro a partir de 1941. Os locutores Heron Domingues e Gontijo Teodoro entravam no ar com as últimas noticias nacionais e internacionais ao som de um dos mais famosos prefixos musicais da história do rádio e televisão brasileiros. Se durante a primeira década de sua existência a Tupi foi líder absoluta, nos anos 60 as emissoras concorrentes aprimoraram sua programação para lutar pela audiência. Em 1960 ela passou do canal 3 para o 4, já que a TV Cultura - em sua fase associada - havia sido fundada no canal 2 e as ondas estavam uma interferindo na outra. O seu edifício sede, na R. Alfonso Bovero, 52 - também no Sumaré, onde hoje é a MTV - também havia sido inaugurado. E também a Tupi se unia as demais Emissoras Associadas e fundavam a Rede Tupi de Televisão.
Em 1968, a novela "Beto Rockfeller", de Bráulio Pedroso, revoluciona a linguagem da televisão. A partir da figura de um anti-herói, surge um novo estilo de interpretação, mais natural. A TV Tupi revela mais uma geração de talentos. A morte de Assis Chateaubriand, em 1968, marca o início de uma crise longa e sem solução. Época que também vendem a TV Cultura à Fundação Padre Anchieta, ligada ao governo. Abalada por problemas financeiros, mal administrada, sem investimentos, a TV Tupi perde qualidade e audiência. Mesmo assim, em 1972 a cor chegava ao sinal da emissora, ao transmitirem a Festa da Uva de Jundiaí, com narração de Blota Júnior.
Últimos anos
As emissoras concorrentes vão ocupando os espaços vazios deixados pela pioneira. Ano após ano, a crise se aprofunda. No fim dos anos 70 a situação é incontrolável. Os salários estão atrasados. Há dívidas astronômicas junto à Previdência Social. Proliferam escândalos financeiros. Em agosto de 1977, Éramos Seis. Cinderela 77 e Um Sol Maior registravam os mais baixos índices de audiência da história da Tupi. Além da audiência, a publicidade também escapolia para as concorrentes, o caixa se esvaziava, os salários deixavam de ser pagos e a greve era questão de tempo. Em outubro de 1977, com três meses de salários atrasados, os funcionários iniciaram a primeira greve, interrompida com o pagamento parcelado dos débitos. O Fim da Rede Tupi
Os constantes atrasos dos salários mantinham o clima tenso na Tupi. As perspectivas de pagamento dos atrasados eram cada vez mais remotas e as explicações dadas aos funcionários, cada vez mais inconsistentes. Para piorar ainda mais a situação, em outubro de 1978 um incêndio no prédio da emissora, em São Paulo, tirou a Tupi do ar por alguns minutos. No ano seguinte, o elenco de O Espantalho, de Ivani Ribeiro, processou a emissora por violação dos direitos autorais. Entre 79 e 80, nova greve. A crise chegou a Brasilia. O então presidente da República, João Figueiredo. se dispôs a receber uma comissão de dirigentes dos sindicatos envolvidos. Muito se discutia, pouco se fazia. A greve persistiu até o início de fevereiro, quando a emissora fechou seu departamento de teleteatro e dispensou 250 funcionários. Foram interrompidas as novelas "Drácula" e "Como Salvar Meu Casamento", drama estrelado por Nicete Bruno e Adriano Reis.
Dezessete de julho de 1980. Pouco antes de completar 30 anos no ar, a TV Tupi tem sua concessão cassada pelo governo federal. Minutos antes do meio-dia de 18 de julho de 1980, três engenheiros do Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) subiram ao décimo andar do edifício-sede da TV Tupi de São Paulo, na avenida Alfonso Bovero, no bairro do Sumaré, e lacraram o transmissor da emissora. Saíam também do ar a TV Tupi do Rio, a TV Itacolomi, de Belo Horizonte, a TV Marajoara de Belém. a TV Piratini de Porto Alegre, a TV Ceará de Fortaleza, e a TV Rádio Clube de Recife. Um delegado da Polícia Federal e mais quatro agentes davam proteção aos engenheiros. Era o fim da TV Tupi. A emissora saía do ar exatamente 29 anos e dez meses depois de sua inauguração. O governo militar preferiu a cassação a entregar o canal a uma cooperativa de funcionários. Permanece, entretanto, um acervo de duzentos mil rolos de filmes, 6.100 fitas de videotape e textos de telejornais que contam 30 anos de muitas histórias do Brasil e do mundo. A queda Associada
O império dos Diários e Emissoras Associadas entrou em derrocada junto com a Rede Tupi. Os canais da Rede foram divididas pelo governo entre dois grupos: o Grupo Bloch Editores, que deu origem à Rede Manchete (1983-1999) e ao Grupo TVSBT Silvio Santos Ltda., que originaram em 1981 o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
A Revista O Cruzeiro faliu no final da década de 70, junto com vários jornais dos Associados, entre eles, os paulistanos Diário de São Paulo (Diário da Manhã, Diário da Tarde, Diário da Noite). Além dos impressos, a radiofusão também foi prejudicada. Suas históricas rádios em São Paulo foram vendidas: a Rádio Tupi FM, a Super Rádio Tupi AM (antiga PRG-2 Rádio Tupi) e a Rádio Difusora(que tinha o prefixo de PRF-3). Como São Paulo era o centro da Rede e dos Associados naquela época, tudo que aqui existia foi arrendado pelos agiotas e pelo governo, a dívida era imensa. No resto do Brasil eles continuam bem, como no caso do Rio de Janeiro, onde existem a Super Rádio Tupi AM e a Rádio Nativa FM (antiga Tupi FM); em Brasília possuem a TV Brasília - única que restou e que pertencia aos canais ligados à Rede Tupi - , o jornal Correio Braziliense; em Minas Gerais o Jornal O Estado de Minas, a TV Alterosa, entre outras propriedades na região e em todos o Brasil.
A Recuperação
Quitada as dívidas e após relatar os prejuízos que a insituição teve, os Associados voltaram a crescer de 1980 para cá. Hoje, não conseguiram e nem mesmo cogitam a volta da Rede Tupi, porém, nas televisões que possuem e nas demais empresas o lema é manter o equilíbrio e entrar nesta nova era com o pé direito, já informatizando seus meios e entrando na era digital. Exemplo disto é o famoso provedor de Minas Gerais, o http://www.uai.com.br/ , propriedade dos Associados.